domingo, 4 de abril de 2010

Reabilitação

Um colega diz que somos "quatro Lucianas" na redação. Duas carregam o nome na certidão de nascimento. As outras duas - no caso eu e meu colega - ganhamos a alcunha em homenagem à personagem principal da novela das 8, aquela tetraplégica em reabilitação.

Ele por causa de uma tendinite que prenuncia, com a falta de cuidados, uma aposentadoria compulsória do alto de seus 33 anos.

E eu pela descoberta de uma "herniazinha respeitável na porção sacral", como anunciou o médico há algumas semanas.

- Doutor, é herniaZINHA ou é respeitável?, indaguei confusa, sem a menor ideia do que estaria por vir. Ele então apontou para uma imagem no computador - a foto de minha coluna vertebral, informou. Indicou com o lápis uma parte branca, protuberante, "avançando pra dentro do disco ósseo entre a L5 e a S1" (ou seja: aquela parte em que acaba a coluna e começa a bunda, e é por isso que vejo estrelinhas quando sento).

- Ok, doutor, mas é grande? é grave? tem cura? vou parar de andar?? posso voltar a namorar??? (nesse momento, o balãozinho de pensamento trazia #$%@*&&$#$ para a lembrança dos momentos rebolation do carnaval baiano...)

Mineirinho sutil, o doutor Cícero lançou um olhar dúbio - tinha um quê de piedade, acho - e fui pra casa indecisa.

Hoje, mais de um mês e uns três tipos de remédios e de tratamentos fisioterápicos depois, a resignação: uma convivência quase harmoniosa com emplastros e uma cinta cheia de ferros pra coluna não cair. E outra parte bem menos harmoniosa que limita movimentos, dá mau humor, escasseia minhas sessões de cinema, me faz acordar de noite com careta e castiga quando tento namorar. LA VECCHIAIA È BRUTA!

Até quando? Ninguém ousou ainda responder.

Mesmo com o nada feito / com a sala escura
Com um nó no peito / com a cara dura
Não tem mais jeito / a gente não tem cura
Mesmo com o todavia / com todo dia
Com todo ia / todo não ia
A gente vai levando / a gente vai levando
A gente vai levando essa guia


Aquele olhar dócil do mineiro doutor Cícero volta sempre a me assombrar, mas agora um mega-super-especialista de olhar mais frio, típico de um mega-super-especialista, passou a tomar conta de mim e da minha protuberância sacral.

Vou levando até que a protuberância resolva involuir (sim, isso é uma possibilidade, disse o médico, engatando uma centena de regras aplicáveis ao meu cotidiano). A outra opção é faca.

Prefiro aprender a sentar ereta nos ísquios.




3 comentários: